sexta-feira, 1 de junho de 2007

Fernando Pessoa

[Uma breve introdução]

O Dicionário Aurélio nos diz que, após o surgimento de Fernando Pessoa, a palavra "heterônimos" circularia com uma terceira acepção:
Outro nome, imaginário, que um homem de letras empresta a certas obras suas, atribuindo a esse autor por ele criado qualidades e tendências literárias próprias, individuais, diferentes das do criador.

Pessoa criou várias outras personalidades poéticas, com identidades e biografias escritas por ele e que são validadas pela manifestação poética própria destes "autores inventados", com suas características diferentes das do autor original - chamado de ortônimo. Nessa diferença entre as obras das criaturas e as do criador é que se caracteriza o heterônimo, distinto do (mais conhecido) pseudônimo.

Álvaro de Campos ("um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo"), Ricardo Reis ("estudou num colégio de jesuítas, formou-se em medicina e, por ser monárquico, mudou-se para o Brasil em protesto à proclamação da República em Portugal") e Alberto Caeiro ("teve apenas a instrução primária, é conhecido como o poeta-filósofo, mas rejeitava este título e pregava uma 'não-filosofia', pois acreditava que os seres simplesmente são, e nada mais - irritava-se com a metafísica ou qualquer tipo de simbologia para a vida") são os três heterônimos mais populares de Fernando Pessoa, talvez por assinarem um maior número de obras.


Vamos ao poema de hoje: um que engloba criador e criatura, em uma harmonia simbiótica.


Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.

Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.

Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu 'screvo.

- Ricardo Reis


Fernando Pessoa, possivelmente, ocuparia o primeiro ou o segundo lugar num ranking dos autores mais importante da língua portuguesa. Talvez atrás de Camões, talvez antes dele.
Portanto, em um blog chamado palavraboa, é inevitável que Pessoa apareça com certa freqüência.
Essa foi sua 2a. aparição aqui. E o próximo post já trará a 3a.


Rafa

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Rafa,

Como é bom ter um lugar para ler coisa boa.

Reserve um lugarzinho pra prosa também.

Beijo!
Higor.