quarta-feira, 9 de maio de 2007

"Porque era ele. Porque era eu."

O escritor que cunhou o termo "ensaio", Montaigne, tinha o hábito de reler seus livros e republicá-los de tempos em tempos, corrigindo o que quer que houvesse mudado em seus conceitos.

Montaigne dedicou um de seus ensaios ao amigo La Boétie, autor que morrera ainda jovem. Em uma de suas releituras/republicações, resolveu expandir a dedicatória que dizia, simplesmente, "ao amigo La Boétie", para responder às perguntas sobre sua amizade, muito freqüentes. Escreveu, então: "Parce que c'etait lui" (Porque era ele).

Anos mais tarde, em uma nova releitura/republicação, acrescentou: "Parce que c'etait moi" (Porque era eu).

Essa era a explicação de Montaigne para a profunda amizade que o ligava a La Boétie. Ele não sabia explicar.

A frase "Porque era ele, porque era eu" resume todo o sentimento do gostar. É como dizer "eu gostava dele porque ele tinha tudo aquilo que me encantava... mas outros talvez não gostassem, porque eu tenho todas essas minhas características que me dão uma certa propensão para gostar exatamente do que ele tinha."

Essa é, certamente, a explicação mais coerente que eu já ouvi para o inexplicável.

Rafa

Nenhum comentário: